Digest: Como o Norte Global Drena Cérebros do Sul Global (Parte I)
Reflexões concisas, digests, e highlights do que aconteceu na economia brasileira e global essa semana
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EM FOCO
Na edição de hoje, analisamos:
Digest do estudo “Troca desigual de trabalho na economia mundial” (Parte I)
O Sul Global: A espinha dorsal da economia mundial
Programas de Ajuste Estrutural: A principal razão por trás da troca desigual
Como um comentário no LinkedIn me fez repensar a fuga de cérebros
Este digest foi inspirado do jeito que muitas coisas acontecem comigo hoje em dia – com um scroll no LinkedIn.
Alguém postou sobre como o Brasil deveria abraçar a exportação de talentos para o Norte Global, argumentando que isso seria um ganha-ganha para os profissionais e a reputação global do país.
Muitos curtiram, alguns comentários de “👏 grande ponto”, e então... a reviravolta.
Enterrado nas respostas, alguém deixou um link para este estudo e disse: “Calma lá.”
A curiosidade me venceu. Cliquei, e o que encontrei virou a narrativa tradicional de cabeça para baixo. Não era só mais uma opinião, mas dados concretos sobre como o Norte Global lucra com o trabalho do Sul Global. E de repente, a ideia de enviar nossos cérebros brilhantes para fora não parecia mais tão genial.
Não é ótimo quando você aceita a honestidade intelectual e se permite aprender algo novo?
Se quiser ler, aqui está o link para "Troca desigual de trabalho na economia mundial", um estudo sobre a disparidade entre salários e produtividade entre o Sul Global e o Norte Global:
https://www.nature.com/articles/s41467-024-49687-y
Este estudo é denso – muito denso. Ele detalha as dinâmicas dos fluxos de trabalho globais e como o Norte Global se beneficia (desproporcionalmente) do trabalho do Sul Global.
Ao me aprofundar nos gráficos, modelos e jargões, ficou claro que isso não poderia ser resumido em uma única leitura.
Por isso, decidi dividir em duas partes. A primeira foca nas implicações mais amplas da troca desigual e no fluxo de talentos para o Norte. A segunda abordará possíveis soluções e estratégias que o Sul pode adotar para mudar essa narrativa.
Espero que goste. Vamos nessa.
O Sul Global: A espinha dorsal da economia mundial
O Sul Global: A espinha dorsal da economia mundial
Pois é, o Sul Global é o motor da economia global, responsável por 90% da força de trabalho mundial – incluindo uma grande fatia de trabalho altamente qualificado. Apesar de todo esse esforço, ele recebe apenas 21% da renda global. Enquanto isso, o Norte Global acumulou 826 bilhões de horas de trabalho do Sul em 2021, no valor de €16,9 trilhões. Nada mal para uma região que não sua tanto assim.
Você pensaria que o Sul teria um acordo melhor por carregar esse peso, mas bem, essa é a globalização em sua melhor forma.
Segundo o estudo:
“Essa apropriação basicamente dobra a força de trabalho disponível para o consumo do Norte, mas drena do Sul a capacidade produtiva que poderia ser usada para atender às necessidades humanas locais e ao desenvolvimento.”
O que me surpreendeu foi que até os trabalhos altamente qualificados fazem parte desse fluxo de trabalho – e estão crescendo, mantendo as indústrias do Norte funcionando:
“O maior aumento ocorreu na categoria de alta qualificação, com a contribuição do Sul para a produção altamente qualificada aumentando de 66% do total mundial em 1995 (1,9x mais que o Norte) para 76% em 2021 (3,2x mais que o Norte).”
Isso não é um defeito – é uma característica do sistema. Mantendo as economias do Sul focadas em exportações baratas, o Norte obtém o que precisa enquanto o Sul continua correndo para acompanhar.
Sim, esses trabalhadores podem ganhar salários melhores, mas seus países de origem acabam importando a expertise que acabaram de perder. É como pedir dinheiro emprestado para comprar de volta algo que já era seu – o que é bizarro.
Programas de Ajuste Estrutural: A principal razão por trás da troca desigual
A troca desigual não aconteceu por acaso. Os Programas de Ajuste Estrutural (SAPs), implementados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial nos anos 1980 e 1990, foram os principais arquitetos desse sistema.
Os SAPs foram projetados como uma boia financeira para economias em crise no Sul Global, muitas vezes em resposta a crises de dívida causadas por taxas de juros crescentes e quedas nos preços das commodities. Para conseguir empréstimos, os países tinham que aceitar reformas drásticas: cortes nos gastos públicos, desvalorização da moeda, privatização de indústrias e reestruturação da economia para priorizar exportações. Um pouco de intervenção governamental demais para o meu gosto, mas tudo bem.
Mas o impacto no Sul foi devastador. Serviços públicos como saúde e educação foram dizimados, os salários despencaram e economias inteiras se tornaram dependentes da exportação de bens e matérias-primas baratas. O resultado? O Sul ficou preso em um ciclo de superprodução e subvalorização, alimentando o crescimento do Norte às suas custas.
Hoje, o legado dos SAPs é evidente: trabalhadores do Sul ganham cerca de 5% do que seus colegas do Norte para as mesmas habilidades, tornando-os uma pechincha irresistível para os mercados globais:
Esses salários baixos significam que o Sul precisa trabalhar ainda mais para manter o comércio com o Norte, produzindo mais horas de trabalho por menos recompensas.
Essas disparidades persistem em todos os setores, da agricultura à manufatura de alta tecnologia. E não se esqueça: essa desigualdade não é um acidente, mas o combustível que mantém o sistema funcionando.
Por isso, quebrar esse ciclo não é nada fácil.
Aguarde a Parte II
Como mencionei antes, há muito o que explorar. Por enquanto, quero deixar esses dados para você. Na próxima parte, vou aprofundar o Dilema da Fuga de Cérebros e algumas alternativas ao modelo atual de exportação de talentos do Sul Global para o Norte.
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