Como Enxergar Meses à Frente do Mercado: Lições de Quem Quis Prever o Futuro
Não Siga Meu Conselho: reflexões concisas, digests, e highlights da economia brasileira e global essa semana.
Bem-vindo a mais uma edição de I'm No Economist
EM FOCO
Na news de hoje:
Como Aprendi a Ler Entrelinhas
Onde os sinais aparecem primeiro
Três movimentos que começam nas bordas e se espalham sem alarde
Como começar a enxergar (e agir) de onde você está
📘 Quer errar menos e jogar o jogo com mais consciência?
Não tem problema ser azarado. O problema é você agir como se fosse sortudo (oi, tigrinho).
Se você trabalha em tech, já deve ter percebido: o ambiente mudou. O dinheiro ficou mais exigente, as startups ficaram mais conservadoras, e o discurso de "crescimento infinito" foi trocado por "precisamos de rentabilidade até semana que vem".
Não dá para prever tudo. Mas dá para parar de agir como se nada tivesse mudado.
📘 No Manual do Investidor Azarado, tem um guia prático pra transformar você em um investidor global - mesmo morando e trabalhando no Brasil.
Nesse manual, eu abro tudo: do racional até os prints de como tô investindo agora.
💸 Estamos em pré-venda por R$47 porque eu quero feedback real de quem vive a mesma realidade que eu.
Como Aprendi a Ler Entrelinhas
A partir de hoje, vou começar a escrever de forma um pouco mais prática sobre:
Como se antecipar ao mercado, sabendo ler entrelinhas do mercado, sem ter que ver todo dia o que está acontecendo na bolsa e no noticiário político.
Eu aprendi a fazer isso porque tive uma sorte específica: minha carreira foi toda feita no mercado de tech e inovação, que são grandes previsores de como a economia vai se comportar.
O mercado de tech, inovação e startups é também altamente influenciado por macroeconomia (vamos tocar mais nisso no futuro). Então sei que posso contribuir muito com educação sobre economia e investimentos por ter sido um ator que viveu esse mercado na peleno Brasil e fora dele.
[Sobre mim, sem CV de LinkedIn]
Para quem não me conhece, desde 2014 eu trabalho no eCosSisTemA de iNoVaçãO (termo meio clichê e difícil de engolir, mas não consegui achar outro).
Mas quem quer o CV de Linkedin, tá na mão 👉 aqui
[De startups a unicórnios]
Passei 99% da minha carreira trabalhando em startups de estágio inicial a unicórnio, tanto no Brasil quanto em empresas da Europa, EUA e México. Principalmente em marketing, growth e vendas. Mas também já tive que fazer muita projeção financeira, pitch deck de investimento, cálculo de tamanho de mercado, etc.
[Empreendedor, anjo, acelerado, investido - tropeçando e aprendendo]
Fundei duas startups. Uma deu mais ou menos certo, porque recebi investimento, fiz ela crescer e consegui vender a carteira de clientes. A outra, deu mais ou menos errado. Eu e meu sócio conseguimos vender bons projetos de R$100.000+, mas num mercado muito nichado e altamente saturado, que não tínhamos o mínimo preparo pra estar (não que isso fosse um impeditivo pra dois malucos). Também investi como anjo em algumas startups. E uma que foi vendida com sucesso recentemente.
[Entre startups e gigantes de verdade]
Também trabalhei como consultor de inovação para grandes corporações de setores variados (papel & celulose, logística, cosméticos) - mas principalmente energia. Me relacionei com startups do setor de energia de todos os continentes. E dei muita sorte, e fui muito feliz, de ter trabalhado como buscador de startups de energia para serem investidas por um fundo de R$ 30 milhões de reais de uma grande corporação de energia brasileira.
[Um insider que agora observa de fora]
Hoje, estou parcialmente aposentado do mundo de startups de alto crescimento. Mas foi um mundo que me ensinou tudo o que sei sobre criar novos negócios e como ver o mundo como um empreendedor e investidor. Além de me ensinar a analisar tendências e ver além do hype.
[O ciclo estava mudando - e quem olhasse veria]
Em junho de 2022, escrevi sobre como o ciclo de criar empresas de "software a qualquer custo" estava acabando. Não foi nenhuma previsão brilhante. Foi só olhar o suficiente para aprender a ver o que muda debaixo do nariz de todo mundo.
[Quando ninguém queria ouvir sobre infraestrutura]
Enquanto o mundo ainda apostava em aplicativos e SaaS, o dinheiro mais atento já migrava para energia, chips e coisas bem menos sexy. Mas hoje, os mesmos atores de tecnologia se unem ao governo americano para investir US$500 bilhões em infraestrutura de IA: Softbank, Oracle, Nvidia.
[Não é só sobre tech - é sobre ciclos globais]
Essa mudança mostra como a economia real sempre acaba cobrando a conta da festa de inovação. Eu também já me vi perdido em meio a essas viradas. Agora, aprendi a procurar os sinais certos.
[Se você quiser sobreviver, precisa enxergar antes]
Se você, como eu, quer entender os ciclos sem virar economista, precisa olhar para venture capital, private equity e startups.
Hoje vamos falar sobre como esses sinais aparecem antes - e como você pode se preparar melhor. Do mesmo jeito que eu consigo, tenho certeza que você também. Talvez até melhor.
Onde os sinais aparecem primeiro
Nesse mundo de startups e investimentos em empresas, o que eu aprendi mais rápido foi que, quando a economia muda, ela não muda de uma vez. Ela começa a rachar pelas bordas - nos lugares onde o dinheiro é mais sensível ao risco.
O ecossistema de tecnologia é um desses lugares.
Empresas que crescem apostando no futuro, rodadas de investimento que financiam ideias antes do lucro, talentos que trocam estabilidade por potencial de lucro futuro.
Quem vive ou já viveu nesse ambiente - de produtos digitais, growth, startups - sente essas mudanças antes de todo mundo.
Antes do PIB cair, antes do desemprego subir, antes da inflação bater na porta, o risco já começou a ser recalculado por quem injeta dinheiro nesse sistema.
Venture Capital e Private Equity não precisam de manchete para mudar de rota.
Eles leem o humor do mercado no ar - e agem com muita antecedência. Quando eles recuam, a realidade muda para quem constrói produtos, para quem escala negócios, para quem sonha com equity.
É nas beiradas do sistema, onde a inovação vive, que as primeiras rachaduras aparecem.
Saber reconhecer esses sinais é menos sobre prever o futuro - e mais sobre não ser o último a perceber que ele já começou a mudar.
Separei três movimentos pra começar a tocar no assunto.
Três movimentos que começam nas bordas e se espalham sem alarde
Quando a economia começa a mudar, ela manda avisos depois de ter acontecido. Então, quando olhamos pro PIB, pra inflação, e taxa de desemprego, já estamos vendo o resultado de meses, talvez anos de decisões tomadas por governos, empresas e pessoas.
As primeiras rachaduras aparecem nos lugares que vivem de antecipar o futuro - onde confiança e capital são as matérias-primas.
Quem já trabalhou, construiu ou simplesmente sobreviveu no ecossistema de tech, sente esses movimentos antes dos números oficiais.
1. Venture Capital pisa no freio
Venture Capital financia o que ainda nem existe. Investe hoje na esperança de colher um retorno daqui a 7, 10 anos. Isso, se colher.
O problema é que capital de risco é altamente ilíquido - depois que o dinheiro entra, ele só volta na mão se a startup for vendida ou fizer IPO.
Quando o humor do mercado azeda - com juros mais altos, crédito mais caro, ou menos apetite por risco -, os gestores de fundos ficam mais seletivos.
Não porque querem, mas porque precisam: eles sabem que vão ficar presos naquela aposta por anos.
O que vai ficando visível:
Menos rodadas Series A, B e C fechadas.
Fundos priorizando empresas que já geram receita sólida.
Eu mesmo passei por isso no ano passado. Estava tentando levantar R$ 3 milhões para um projeto que tinha boas chances de dar muito certo, ou muito errado.
No ambiente certo, talvez tivesse conseguido. Mas quando o investidor vê a possibilidade de ganhar 15% ao ano com risco quase zero, apostar no incerto deixa de fazer sentido.
Quando isso acontece, o encadeamento é simples:
Menos investimento em negócios iniciais → Menos inovação → Menos produtividade → Menos emprego → Menos crescimento econômico.
E essa retração do Venture Capital acaba respingando diretamente no comportamento das próprias startups - o próximo ponto.
2. Startups mudam de prioridade conforme o dinheiro aperta
A forma como uma startup se comporta muda radicalmente dependendo da fase em que ela está - e do apetite de quem financia essas fases.
Seed e Series A são sobre provar que o produto existe, que o mercado está lá. Ainda há espaço para experimentação, pivots (mudança de modelo de negócio), storytelling forte.
Series B e C são sobre previsibilidade: o crescimento tem que ser comprovado, os unit economics precisam fechar, o discurso vira eficiência.
Quando o dinheiro aperta, essa transição de mentalidade acelera. Seed e A sofrem primeiro: menos capital para novas ideias. Startups em Series B e C sentem logo depois: mais pressão para começar a lucrar, cortar o time, postergar expansão.
Isso não é porque os founders desaprenderam a inovar. É porque quem bota dinheiro agora precisa ter mais certeza de que vai conseguir tirar dinheiro depois - e não pode mais se dar ao luxo de errar por cinco anos seguidos.
O que vai ficando visível nas startups:
No Seed/A: dificuldade maior de captar, cortes em projetos ainda incipientes.
No Series B/C: redução de times de marketing, growth, produto; priorização brutal de caixa e rentabilidade.
O que isso vai desenhando no horizonte:
Menos espaço para ideias novas → Startups cada vez mais parecidas → Menos diferenciação real → Ecossistema mais lento → Menos crescimento econômico no futuro.
Essa mesma lógica - de ser forçado a priorizar segurança sobre crescimento - também acontece em escala maior, com o dinheiro que movimenta empresas já estabelecidas. É aí que entra o Private Equity.
3. Private Equity afina a régua
Private Equity é, de certa forma, o irmão mais velho do Venture Capital. Compra empresas inteiras, muitas vezes usando dívida como alavanca para ampliar retorno.
A engrenagem é simples: compra barato, melhora margens, vende caro - usando crédito farto como combustível.
Só que esse modelo depende de duas coisas que nem sempre estão garantidas:
Crédito abundante e barato.
Certeza de que a empresa comprada vai crescer ou se valorizar.
Quando o custo da dívida sobe (juros altos) ou a confiança no crescimento diminui, o que antes era balão inflável vira âncora. E o investidor institucional por trás dos fundos de PE - fundo de pensão, endowment, family office - não gosta de carregar surpresa ruim no portfólio.
As mudanças aparecem assim:
Menos operações alavancadas (LBOs): ou seja, pegar dívida pra comprar empresas pra depois vendê-las.
Mais investimento em setores considerados seguros: energia, saúde, infraestrutura.
E o encadeamento também é claro:
Menos crédito para empresas médias → Menos expansão → Menos contratação → Mais concentração de mercado → Crescimento econômico mais lento e desigual.
Pequenas rachaduras antes da tempestade
Essas mudanças não chegam na forma de manchetes estrondosas. Elas começam nas entrelinhas: em rodadas que demoram a fechar, em startups que mudam sutilmente seu discurso, em fundos que passam a perguntar mais sobre payback do que sobre escala.
Prestar atenção nessas rachaduras - e entender como elas se conectam - não é tentar prever o futuro. É uma forma mais realista de se mover no presente, antes que o próximo impacto chegue.
Como começar a enxergar (e agir) de onde você está
A maioria das pessoas só percebe que o ambiente mudou quando já não dá mais para ignorar.
Quando o funding some, os layoffs começam, ou as startups viram linhas cinzentas em planilhas de corte.
Mas quem presta atenção enquanto ainda parece "normal" tem vantagem. Não pra prever tudo - mas pra fazer escolhas melhores quando o chão começa a tremer.
Alguns sinais para observar no seu dia a dia:
Sua startup parou de contratar? Mudou discurso para eficiência?
Rodadas de captação estão demorando mais ou saindo menores?
Executivos de startups no LinkedIn começaram a falar mais de "rentabilidade" e menos de "crescimento exponencial"?
Fundos conhecidos estão anunciando menos deals ou priorizando empresas lucrativas?
Esses são pequenos alertas silenciosos de que o ambiente está mudando antes de virar notícia.
E o que fazer com isso se você não é investidor de fundo privado (um clube muito exclusivo)?
Mesmo sem acesso direto a Venture Capital ou Private Equity, você pode se expor aos efeitos desses ciclos:
Quando VC seca e startups se apertam, setores de infraestrutura, energia e tecnologia hard (tipo chips, agora) tendem a ganhar destaque nas bolsas - olha o caso da Nvidia.
Empresas listadas que vendem para esses setores (data centers, energia, cloud infra, hardware) podem se beneficiar desse movimento de reindustrialização (olha as tarifas do trump querendo reindustrializar os EUA).
ETFs de setores defensivos ou de infraestrutura podem ser uma forma de capturar essa tendência sem precisar acertar empresa por empresa.
Manter uma reserva de liquidez também vira um diferencial enorme - porque a maré baixa sempre revela quem estava nadando pelado (olha a Berkshire Hathaway e o Warren Buffet com o maior caixa da história).
O objetivo aqui nunca é acertar o topo ou o fundo do ciclo. É simplesmente não ser pego de surpresa - e, quando possível, se posicionar um passo antes dos outros.
Esses sinais que começam no canto do mercado - nos investimentos, nas startups, nos fundos - são pequenas bússolas silenciosas do que vai acontecer no mundo inteiro alguns meses depois.
Vamos continuar falando disso nas próximas edições.
📘 Quer errar menos e jogar o jogo com mais consciência?
Não tem problema ser azarado. O problema é você agir como se fosse sortudo (oi, tigrinho).
Se você trabalha em tech, já deve ter percebido: o ambiente mudou. O dinheiro ficou mais exigente, as startups ficaram mais conservadoras, e o discurso de "crescimento infinito" foi trocado por "precisamos de rentabilidade até semana que vem".
Não dá para prever tudo. Mas dá para parar de agir como se nada tivesse mudado.
📘 No Manual do Investidor Azarado, tem um guia prático pra transformar você em um investidor global - mesmo morando e trabalhando no Brasil.
💸 Estamos em pré-venda por R$47 porque eu quero feedback real de quem vive a mesma realidade que eu.
Nesse manual, eu abro tudo: do racional até os prints de como tô investindo agora.
Depois do meio de abril, o valor vai pra R$87 ou R$97 com as melhorias.